Like a Real Friendship.: A INUTILIDADE DA LOUÇA

domingo, 4 de outubro de 2009

A INUTILIDADE DA LOUÇA - III

Vi nos seus olhos que algo não estava bem. Querida, esse é seu limite. Não. Não olhe mais desenho animado. Você nunca vai fazer o que o Pernalonga fez. Vi você chorando depois. Uma lágrima tão doce, uma lágrima tão difícil. Olhe pra trás que eu vejo o que aconteceu contigo. Olho para a árvore congelada e lembro que ela foi uma fiel testemunha do nosso amor. Lua, não desça! Fique aqui iluminando nossa mais bela noite. É tão normal ter sua companhia e ao mesmo tempo tão difícil as pessoas verem seu significado.

As Cores

Sob a guarda do sagrado eu me fecho. Aqueles olhares parados, frios como a névoa densa, pareciam que no instante mais propício, iriam mover-se na minha direção e susurrar ao meu ouvido o mais alto dos rugidos leoninos. Um vento frio entrou pela porta amenizando o abafamento do ambiente. Meus olhos analizavam a beleza do local, por mais simples que fosse. Aqueles vitrais, o ouro vivo presente e a beleza espiritual. A igreja estava ficando cada vez mais escura, e a escuridão não seria o lugar mais apropriado para um lugar de fé e rezas. Observei a estátua de Jesus ao fundo, os anjos de cabelo loiro e pele branca o rodeavam. Não rezei. Apenas observei mistérios. Fui embora; de costas. Andando na praça da Igreja, fiquei em dúvida se sentava em um banco ou seguia em frente para casa. O céu anunciava uma chuva em breve. Pelo menos estava nublado, o que já favorece minha intuição. Resolvi ir andando. Não deveria chover agora. No caminho, as árvores brincavam com os cabelos doces das belas meninas que passavam por ela. Atravessei a rua rápido, sem ver o fluxo. O tráfego estava horrível, porém nada aconteceu comigo até chegar no portão de casa.

Nem sempre o bem trará luz, como o mal nem sempre trará escuridão. Uma das frases mais complexas que já ouvi depois de minha mãe gritar comigo quando era criança. - Quem você pensa que é ?! - Cheguei em casa e fui obrigado a ligar a televisão tentando esvaziar minha mente com o que supostamente viria em tom de tormenta. Não tive sucesso. Vendo todas aquelas imagens na TV, uma das minhas maiores dúvidas renasceu.

Sempre que pediram a mim para representar a escuridão com uma cor, sempre era a cor tenebrosa, sombria. Mas creio que esse não é o jeito mais correto de representar a escuridão. E sempre que pediram para caracterizar o puro, era a cor suave, a cor doce. Flashs vieram na minha cabeça. Tudo estava confuso minha cabeça não aguentava mais aquela confusão de criança que me aflorava até esse instante da minha vida e percebi então que não conseguia respirar muito menos pensar pois meus olhos estavam arregalados o bastante. Respirei.

Freiras de preto, Ku Klux Klan de branco. Já que o branco é puro e divino, o que dizer da raça ariana de Hitler ? Onde estava o preto ? O preto só podia ser visto vindo da chaminé dos campos de extermínio, onde se via uma fumaça de carne judia.

Algo está errado. As cores não servem pra nada.

Segredo

O vento balançava a copa das árvores. Trazia um vento de chuva. O banco amarelo sob a quarta árvore é o lugar que eu mais gosto de ficar na escola. E naquela tarde de setembro, junto com meus dois melhores amigos, estávamos fazendo o trabalho sobre óxidos para entregar amanhã. Meu nome é Bernardo.
Tudo estava indo bem, só que uma cena que me perturba acabara de acontecer. Aquela menina de cabelos até o pescoço, com uma tiara verde nos cabelos, sempre me faz perder a noção do que estou fazendo. Aquela linda garota de olhos cor de céu me faz sentir algo que com as outras, nunca senti. Seu andar sobre os degraus da escada, parecia anunciar a mais bela e preciosa quebra dos diamantes. O mesmo vento que embalava as árvores, agora brigava com seus cachos, mostrando a beleza interior. A beleza interior só é vista quando não queremos. E acho que isso se encaixava bastante. Do lado dela, seu namorado parecia cuidar de um diamante. E isso a incomoda profundamente. Ela sabe se cuidar, eu sei disso. Eu sinto isso. Ela me faz feliz. Meu nome é Bernardo e sou profundamente apaixonado pela Bianca.
Ela veio em nossa direção com o idiota. Aquela sensação que tanto me incomoda, reapareceu. Eles sentaram-se no mesmo banco que estávamos. Eu logo saí do banco e dei a desculpa que iria à cantina comprar um refrigerante ou qualquer coisa que me fizesse esquecer aquele romance. Meu nome é Bernardo, sou profundamente apaixonado pela Bianca e cada vez mais, sinto que ela não sente a mesma coisa por mim.
- Eu quero uma latinha de refrigerante e um chocolate desses aqui, por favor. - disse eu à tia do bar.
- Bernardo, posso falar com você ? - eu conheço aquela voz. Nunca sai da minha cabeça. Se for quem eu realmente penso que é, o que devo fazer?, não sei se devo me render ao coração ou simplesmente ficar com uma cara de bobo apaixonado na frente da Bianca. Bianca. Essa é a voz que fala atrás de mim. Meu nome é Bernardo, sou profundamente apaixonado pela Bianca e cada vez mais, sinto que ela não sente a mesma coisa por mim, pois quando ela vem ao meu encontro, eu tento fugir.
- Claro Bianca. - não tinha lugar para eu me esconder, então só me restou essa opção.
- Bernardo, porque sempre que eu estou com o Luís e chego perto de você, você sai arrumando uma desculpa? - seus olhos eram de uma vital beleza, e essa beleza é tanta que me faz pensar errado, fazendo eu cometer o mais doce erro.
- Bianca, o que eu posso fazer se sempre que você chega perto de mim eu estou ocupado? - acho que isso não foi uma pergunta boa.
- Bê, eu percebo que você sente algo por mim e.
- Não Bianca. - interrompi rapidamente.
- E eu tenho namorado, você sabe.
- Bianca, ta bom então. Desde esses últimos meses, eu sinto que quando estou perto de você, o mundo para e fico observando seu andar. Quando estou com você, o que realmente importa não é a situação, mas apenas sua companhia. Você me faz melhor, você me faz sentir feliz.
- Querido, eu não posso ficar com você. Eu já senti isso. Você também me faz feliz. Só que entende? Não podemos.
- Sim, eu entendo. Só que eu não conseguiria ficar te vendo com esse cara. Eu queria tanto que você tivesse ao meu lado.
- Bernardo, eu adoro o Luís.
- E eu te amo. - interrompi denovo, só que dessa vez houve um silêncio.
- Bernardo, não podemos ficar juntos. E seu refrigerante e seu chocolate estão ali em cima do balcão. Eu vou voltar lá pra cima.
- Espera! Bianca, eu só gostaria que isso ficasse aqui. Eu sei que eu amo uma pessoa que não pode corresponder a mesma coisa por mim, mas não posso controlar. Por um lado, me apaixonei pela pessoa errada. E pelo outro lado, me apaixonei pela pessoa certa, pois meu coração fica feliz quando está ao seu lado.
- Meu querido, se algum dia a gente tiver algum tipo de relacionamente, cabe a nós resolvermos isso. Eu sofri para encontrar a pessoa certa para mim. Naquele momento, a pessoa certa era o Luís. Mas agora, eu não vejo mais assim. Eu gosto dele, não o amo mais. Mas mesmo assim, eu gosto muito de você.
Eu com meu jeito dessarumado, tive a sensação de tudo ter caído na minha volta, e como um passe de mágica, tudo voltar ao seu devido lugar de um modo suave. Nos abraçamos. Nunca percebi o quão mágico é o seu abraço. Seus braços me envolveram e os meus abraçaram o corpo de uma garota de amor que nunca tinha sentido antes. Era como se eu estivesse abraçando a Rapunzel para que ela não caisse da torre mais alta do castelo.
- Seu cadarço está desamarrado. - ela disse, com sua voz suave. Ao me abaixar, ela frustrou minha tentativa de amarrar o cadarço.
- Deixa que eu arrumo para você.
Ela deu o nó no cadarço, e ficou aos meus pés durante dois segundos. Ao levantar-se, ficamos cara a cara. A cantina vazia, era o palco perfeito para segredos. Já a confessara um e pedi que ficasse ali. Ela foi chegando mais perto de mim. E quando chegou no limite da aproximação, sussurou a mais bela e sublime das frases.
- Love me do boy. Ou entenda isso como, eu te amo.
Nossas bocas foram ao encontro uma da outra. Sentimos o calor um do outro. Nossos corpos ficaram ligados por um pequeno pedaço de carne que significa que podemos amar. Não foi nada espetacular, apenas nos encostamos, e então, ela diz.
- Se você quiser isso fica aqui também.
Peguei meu refrigerante, meu chocolate e fui ao banco amarelo sob as árvores logo depois da minha amada voltar à torre mais alta do castelo.